Livro é escrito em primeira pessoa, como se
fosse a própria Ivete falando
As lembranças da infância em Juazeiro, as
apresentações em barzinhos de Salvador no início da carreira, o trabalho como
vendedora em uma loja de roupas... O livro Ivete Sangalo - Pura Paixão
(Agir/R$ 29,90/224 págs.) revira as memórias da cantora mais popular do Brasil
na atualidade e vai satisfazer os desejos dos fãs, de conhecer mais um pouco
sobre a vida de seu ídolo.
Mas não espere nenhuma revelação bombástica,
já que o objetivo da publicação é apenas celebrar os 20 anos de carreira da
cantora baiana. “A biografia tem aquilo que ela quer contar. Portanto, é a
visão dela sobre assuntos que ela gostaria de dividir com os fãs”, diz o
jornalista baiano Jorge Velloso, 31 anos. Velloso foi convidado pela editora
para transformar em texto os depoimentos que ouviu de Ivete. O livro, narrado
em primeira pessoa, como se a cantora estivesse contando sua própria vida,
aproxima o leitor da artista.
Linguagem Segundo Velloso, o objetivo era exatamente esse: “O uso dessa
linguagem mais informal foi intencional e a ideia era deixar o livro ‘o mais
Ivete possível’. Tentei mesmo reproduzir a maneira como ela fala e acho
que acertei”. Para se ter uma ideia de como o jeito moleque de Ivete foi
mantido, olha só como ela fala sobre as viagens que fazia de Salvador para
Juazeiro no automóvel Del Rey da família, com os pais e os irmãos: “(...) Era
uma comilança arretada. Todo mundo grudado por conta do suor nas pernas. Às
vezes, parávamos para fazer um xixi, um cocozinho na estrada”. A cara dela, não
é?
E, pelo visto a cantora gostou, já que num encontro recente que teve
com o jornalista, num casamento de um amigo em comum, ela disse que o livro
ficou realista e leve, exatamente como queria. Com a agenda sempre cheia, Ivete
não pôde ter muitos encontros com Velloso, mas falante como é, ela
facilitou o trabalho do escritor, que recebeu o convite para escrever o livro
no início do ano. Logo, começou a pesquisar sobre a vida da cantora e se
preparou para as entrevistas que faria, principalmente, a bordo do avião da
artista, nas viagens entre um show e outro. O voo que permitiu a mais longa
conversa foi o que levou a cantora para Porto Velho, capital de Rondônia.
Viagens. - O
avião particular é citado algumas vezes no livro, mas não como um objeto de
ostentação. Ivete costuma falar do jatinho como um facilitador que lhe
permite estar mais próxima da família, mesmo em meio à agenda abarrotada de
trabalho. Usa-o para agilizar as viagens e, assim, ficar mais perto do filho,
Marcelo, e do marido, Daniel. “Dinheiro é bom demais, mas deve ser usado para
solucionar. Do contrário, só atrapalha. Não sou consumista. Tenho um avião
porque é um instrumento de trabalho. Mas meu carro fica batendo lata até eu
lembrar de trocar”, diz a cantora num capítulo em que fala sobre o sucesso. Mas
antes da fama, Ivete “ralou” muito e faz questão de lembrar dos tempos duros,
quando trabalhava numa loja de roupas e vendia marmitas feitas pela mãe para
complementar o orçamento de casa. Nessa época, saía do trabalho no shopping e,
à noite, ia se apresentar nos bares.
Encontros . - Ivete
aproveita o livro para citar pessoas que foram importantes em sua trajetória,
especialmente no começo da carreira, como Jonga Cunha, produtor musical que foi
fundamental na entrada da cantora na banda Eva, onde atuou até 1999. Os
momentos de glória são lembrados no livro com saudade pela cantora,
especialmente os encontros musicais que teve com alguns de seus ídolos, como
Gilberto Gil, Caetano Veloso e Stevie Wonder. Este último, a quem ela se refere
como um “ídolo dos tempos de radiola”, rende um dos momentos em que demonstra
mais entusiasmo. Ivete admite que depois de cantar com ele em Brasília, em
2013, queria telefonar para toda a família para comemorar. Um dos poucos assuntos polêmicos que a artista aborda é a especulação
sobre um romance que ela poderia ter tido com Xuxa: “(...) Ela é minha amiga.
Mesmo que eu fosse lésbica e ela também, não ficaríamos por sermos amigas. E se
não fôssemos tão amigas e gostássemos de mulher, poderíamos ser namoradas”. Além
do depoimento de Ivete, o livro traz as receitas favoritas da cantora e
fotos que mostram momentos especiais. A discografia, desde os tempos da banda
Eva, também está incluída. Material para fã, portanto: “É um livro para
admiradores, que traz muitas curiosidades sobre ela. Não é material para
estudiosos da música”, pontua Jorge Velloso.