EX-JOGADOR WILLIAM ABRE EMPRESA PARA PROTEGER A FORTUNA DOS ATLETAS

Carro de luxo, imóvel e ajuda a parentes podem arruinar o patrimônio de esportistas com carreira meteórica. Assim, empresas surgem para blindar o patrimônio dos jogadores. Donos de altos salários, eles foram à beira da falência no fim da carreira. Mané Garrincha é um dos exemplos mais sintomáticos da dificuldade dos atletas em administrar seu próprio dinheiro. Incomodado em ver esportistas na ruína, o engenheiro e profissional do mercado financeiro Henning Sandtfoss uniu-se ao ex-zagueiro do Corinthians William Machado, aposentado em 2010, para ajudar a proteger os ganhos dos atletas. Fundaram a Redoma Capital no ano passado, incorporada em dezembro pela gestora de patrimônio GPS. Educar o bolso de um jogador é um trabalho urgente, já que 50% deles terminam a carreira com problemas financeiros, como apontou uma pesquisa da consultoria alemã Schips Finanz em 2011. Por que são tão vulneráveis? “A maioria dos atletas vem de classes mais baixas e com menos educação financeira, por isso apostam tudo na única oportunidade de dar um salto social”, analisa Machado. Imóvel é o investimento preferido deste público – como grande parte dos brasileiros – embora nem sempre seja o negócio mais vantajoso. Salários altos não livram o jogador de dívidas, segundo Sandtfoss. Há casos em que o jogador entrou no cheque especial, mesmo ganhando R$ 150 mil por mês. Financiou imóveis por R$ 140 mil, enquanto sustentava um padrão de vida de R$ 30 mil. Ajudar familiares com problemas financeiros também é uma prática comum e arriscada, aponta a Redoma. Por isso, seus fundadores mantêm a filosofia de educar toda a família do esportista, além de conhecer seus gastos fixos, para fazê-los entender que o salário, mesmo alto, é limitado. Outro equívoco dos atletas é confundir carros de luxo com investimento. “Quando você tira o automóvel da loja, ele já vale 10% menos”, exemplifica o empresário. Assim que o clube renova o contrato do jogador com um salário maior, muitos financiam um novo carro, opção nada vantajosa na visão de Sandtfoss. Alguns trocam de carro mais de uma vez por ano. A falta de planejamento da aposentadoria é outro risco ao futuro do atleta. Com carreira curta – os jogadores se aposentam por volta dos 35 anos –, eles têm bem menos tempo para formar um patrimônio que assegure seu sustento ao fim da carreira. Enquanto o trabalhador comum deve poupar cerca de 30% do salário para o futuro, o esportista precisa guardar entre 70% e 80% dos ganhos para assegurar um futuro confortável, avalia Machado, ex-Corinthians.Ao aplicar o dinheiro, os esportivas veem o mercado de ações com ressalvas. Como grande parte dos brasileiros, eles têm aversão ao risco, ainda que diluído em uma carteira com diversos ativos financeiros. Mas há perigos maiores à fortuna, como descuidar da sucessão familiar e da blindagem patrimonial, muito comum entre jogadores que se separam ou têm filhos fora do casamento. Ganhar rios de dinheiro, na verdade, é um privilégio para poucos jogadores: apenas 2% deles recebem mais de 20 salários mínimos, enquanto a esmagadora maioria (82%) ganha até dois salários, segundo a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Hoje, cerca de 30 clientes do meio esportivo recebem assessoria financeira da Redoma, entre eles o zagueiro do Corinthians, Paulo André. O patrimônio total administrado pela assessoria é de R$ 60 milhões. “Nossa meta é aumentar para R$ 500 milhões nos próximos cinco anos”, conta Sandtfoss.