Ao receber o controle de duas
diretorias da BR Distribuidora, uma subsidiária da Petrobras, o ex-presidente
estabeleceu seu próprio balcão de negócios no petrolão. A Lava Jato foi bater à
sua porta. Reviravolta:
de inimigo visceral do PT nos anos 90, Fernando Collor converteu-se em um de
seus mais fieis aliados(Cristiano
Mariz/VEJA)
Nas
projeções mais otimistas, calcula-se que corruptos e corruptores envolvidos no
escândalo da Petrobras tenham desviado algo perto de 19 bilhões de reais dos
cofres da
Os
investigadores cumpriram 53 mandados de busca e apreensão nas residências e
nos escritórios de políticos suspeitos de corrupção no escândalo da Petrobras.
Entre os alvos estavam parlamentares e ex-parlamentares, incluindo dois
ex-ministros do governo da presidente Dilma. No episódio mais emblemático da
ação, os agentes devolveram ao noticiário político-policial a antológica Casa
da Dinda, a residência do ex-presidente Fernando Collor, cenário do escândalo
que, nos anos 90, levou ao primeiro impeachment de um presidente da República.
Os
policiais apreenderam documentos, computadores e três carros de luxo da frota
particular do atual senador: um Lamborghini Aventador top de linha (3,5 milhões
de reais), uma Ferrari vermelha (1,5 milhão de reais) e um Porsche (700 000
reais). Nem o bilionário empresário Eike Batista em seus tempos de bonança
exibia modelos tão exclusivos - e caros. Collor, até onde se sabe, é um
empresário de sucesso. Sua família é proprietária de emissoras de televisão e
rádio em Alagoas, terrenos, apartamentos, títulos, ações, carros... A relação
de bens declarados pelo senador soma 20 milhões de reais, o suficiente para
garantir vida confortável a qualquer um.
Collor,
apesar disso, não resistiu à tentação e adentrou o pomar petista. Em 2009, ele
assumiu a presidência da Comissão de Infraestrutura do Senado. Com
significativo poder para fiscalizar os destinos das obras do PAC, a vitrine de
campanha da então candidata Dilma Rousseff, o senador se apresentava como um
obstáculo para o governo. A maçã lhe foi oferecida. O ex-presidente Lula
entregou ao senador duas diretorias da BR Distribuidora, uma subsidiária da
Petrobras - a diretoria da Rede de Postos de Serviço e a de Operações e
Logística. No comando desse feudo, segundo os investigadores, Fernando Collor criou
o seu balcão particular de negócios dentro da maior estatal brasileira, o que
lhe renderia milhões em dividendos.
Segundo depoimentos colhidos na Lava-Jato, o
esquema obedecia a uma lógica simples. As empresas que tinham interesse em
assinar contratos com a BR acertavam antes "a parte do senador".
Foram dezenas de contratos. A polícia já identificou dois que passaram por esse
crivo. Num deles, de 300 milhões, um empresário do ramo de combustíveis pagou a
Collor 3 milhões de reais em propinas para viabilizar a compra de uma rede de
postos em São Paulo. A operação foi revelada pelo doleiro Alberto Youssef em
acordo de delação premiada. Encarregado de providenciar o suborno ao senador,
Youssef fez a entrega de "comissões" em dinheiro, depósitos diretos
na conta do parlamentar e transferências para uma empresa de fachada que
pertence a Collor.
O
Lamborghini, até recentemente o único do modelo no Brasil, está em nome da tal
empresa, o que fez os investigadores suspeitar que o carro foi bancado com
dinheiro desviado da Petrobras. Desde o ano passado, quando explodiu a Operação
Lava-Jato e as torneiras da corrupção se fecharam, o IPVA do carro não é pago
pelo ex-presidente. A dívida acumulada é de 250 000 reais. Mas não é desapego
do senador. Zeloso, ele só usava o carro para passeios esporádicos a um
shopping de Brasília. Quando isso acontecia, o Lamborghini permanecia sob a
vigilância de dois seguranças do senador, que fixavam um perímetro de
isolamento em torno do veículo para evitar a aproximação dos curiosos. A frota
de luxo de Collor - revela Lauro Jardim, na seção Radar - conta com um
Rolls-Royce Phantom 2006, mais exclusivo ainda do que o Lamborghini.