A
presidente Dilma Rousseff decidiu não avisar o ex-presidente Lula das novas
medidas econômicas nem se reunir previamente com os presidentes da Câmara,
Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, para ouvir eventuais sugestões e
amarrar apoio político. Com medo de vazamentos, Dilma optou por divulgar as
propostas de cortes de despesas e de elevação de tributos de um modo diferente
do combinado em reunião na semana passada com o vice-presidente da República,
Michel Temer. O roteiro acertado seria anunciar antes os cortes para, num
segundo momento, buscar aumento de receita por meio de elevação de tributos.
A
ideia seria costurar acordo político antes de fazer um movimento tão audacioso,
pois há resistências na base de apoio do governo no Congresso a aumentar a
carga tributária. Mas Dilma optou, mais uma vez, por agir sem consulta prévia a
políticos, empresários e sindicalistas. A forma como o governo divulgou o
pacote econômico de hoje está sendo vista pelo PT e pelos aliados como mais um
complicador para aprová-lo no Congresso e nas negociações com outros setores da
sociedade, como o funcionalismo e o empresariado.
No
PT, há queixas de que lideranças dos movimentos sociais não foram chamadas para
dar sugestões sobre propostas que afetam sindicalistas que lidam com o
funcionalismo e os aposentados. Dilma fechou os detalhes finais das medidas
apenas com os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Nelson Barbosa
(Planejamento) e Joaquim Levy (Fazenda). Politicamente, a forma como a
presidente agiu pode afetar seriamente a chance de sucesso do pacote de corte
de gastos e de aumento de impostos. São propostas duras e necessárias para
fortalecer a política fiscal, mas elas precisam sair do papel. Se depender da
articulação política feita por Dilma, será difícil isso acontecer.