Em meus
mais de 30 anos de atuação na pediatria, seria difícil calcular o número exato
de pacientes que já atendi. Posso dizer que, entre eles, tenho alguns cuja
idade já ultrapassou a faixa etária recomendada para que uma pessoa recorra a
um pediatra. Ainda chegam muitos adolescentes quase adultos ao meu consultório
na busca da minha análise clínica. A Pediatria é a medicina do ser em
crescimento. Mas, afinal, até que idade os pais devem levar seus filhos ao
pediatra? Desde
1969, o Conselho Americano da Prática Pediátrica (Council of Pediatric
Practice) aconselha que o acompanhamento com este profissional deve prosseguir
até que o paciente complete 21 anos de idade. No entanto, muitas entidades,
públicas ou privadas, estabelecem limites arbitrários, como 12, 14 ou 16 anos
para o atendimento por pediatras. Lembrando ainda que dentro da área da
pediatria existe uma subespecialidade, a hebiatria, que atende adolescentes,
faixa etária pré-determinada entre os 13 e 21 anos.
Sendo
assim, recomendo que as consultas para crianças até um ano de idade sejam
realizadas mensalmente, já a partir do 2º ano de vida, a visita pode ser feita
a cada três meses e, dos 2 ao 6 anos, a mesma deve acontecer semestralmente.
Quando o paciente já estiver crescido, deve visitar o pediatra anualmente, e, a
partir de então continuidade seus cuidados com a saúde com um clínico geral,
anualmente, que o encaminhará para um especialista quando necessário. Assim
como cada criança tem suas particularidades, nós adultos também, e há casos que
fogem às regras, devido a alguns acometimentos que possam requerer mais visitas
com um profissional.
Um dos
motivos que faz com que, mesmo após os 21 anos, muitos ainda recorram ao
pediatra – mesmo que seja apenas para pedir conselhos -, é justamente pela dificuldade
da quebra do “cordão umbilical” na relação entre o médico e o paciente, devido
a longa interação durante seu crescimento e maturidade. Muitos pediatras acabam
se tornando parte da família da criança, sendo difícil essa “despedida”. Para estes meus crescidinhos pacientes,
sempre procuro me atualizar no sentido de me adequar às suas exigências, na
maioria das vezes, muito mais na área afetiva e comportamental do que
propriamente no tratamento de doenças físicas. Assim, é preciso aprender a
ouvi-los e atender seus anseios. Particularmente, colaboro com conselhos e
observações, deixando claro não estar assumindo a atuação médica em si, pois me
considero sem competência e tempo para exercer tal atividade médica. Por isto,
aconselho uma consulta com um clínico geral.
Por
último, lembro e friso que nós pediatras, atualmente, estamos nos adequando
para atender pequenos pacientes que provavelmente vão viver até 120 anos. Com
este novo cenário, temos que nos esforçar para que eles vivam com boa qualidade
de vida, através do acompanhamento pediátrico desde seu nascimento e com
consultas preventivas e check-ups, orientando-os para que evitem condutas que
possam ser prejudiciais para a sua saúde a curto e longo prazo.