Ex-executivo da
Toyo Setal Julio Camargo disse ter entregue R$ 4 milhões ao ex-ministro a
pedido do ex-diretor da Petrobras Renato Duque
A defesa de José Dirceu apresentou na noite dessa terça-feira (14) uma
petição ao juiz Sergio Moro na tentativa da evitar a prisão preventiva do
ex-ministro na Operação Lava Jato. A decisão de protocolar a petição veio após
o ex-executivo da Toyo Setal Julio Camargo revelar, em depoimento à Justiça
Federal do Paraná nesta terça, a informação de que entregou R$ 4 milhões em
dinheiro vivo ao ex-ministro a pedido do ex-diretor da Petrobras Renato Duque. Camargo
colabora com as investigações sobre corrupção na Petrobras desde dezembro do
ano passado e já prestou vários depoimentos às autoridades, mas esta é a
primeira vez em que falou no assunto.
No documento, o advogado de Dirceu, Roberto Podval, cita a informação
fornecida por Camargo e recorre a argumentos já apresentados em petições
anteriores, como as recorrentes notícias veiculadas na imprensa sobre uma
iminente prisão do petista. O advogado também informa que durante toda a
terça um carro de uma emissora de televisão ficou em frente à casa do petista,
"certamente aguardando a tão esperada prisão". A defesa ainda relata
o estado em que se encontra Dirceu, "já com seus 70 anos e rotulado
indelevelmente de inimigo público, não aguenta mais a situação a qual é
submetido diariamente".
A petição também recorre ao comportamento do ex-ministro durante o
julgamento do processo do mensalão. "O peticionário respondeu à ação penal
470 ('mensalão') em liberdade, jamais demonstrando intenção de fugir ou de
qualquer forma frustrar a aplicação da lei penal. Inclusive, após o trânsito em
julgado do caso e com a expedição de mandado de prisão pelo Supremo Tribunal
Federal, apresentou-se espontaneamente para ser preso, e vem cumprindo
rigorosamente sua pena."
Habeas
Corpus. - No início de julho, a defesa de José Dirceu impetrou no TRF-4
(Tribunal Regional Federal da 4ª Região), em Porto Alegre, um pedido de habeas
corpus para evitar a prisão preventiva do ex-ministro, que foi negado.
A defesa, no entanto, fez um agravo regimental e o pedido será julgado
por um colegiado de desembargadores do tribunal. Ainda não há data prevista
para o julgamento.
Pagamentos. - O depoimento de
Júlio Camargo pode complicar a situação de Dirceu, que é alvo de um inquérito
da Lava Jato por causa dos pagamentos que recebeu de empreiteiras que tinham
negócios com a Petrobras.
Dirceu abriu uma empresa de consultoria depois de deixar o governo do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ter o mandado de deputado federal
cassado, em 2005, no auge do escândalo do mensalão. O ex-ministro faturou como
consultor R$ 39 milhões entre 2006 e 2013. Empresas investigadas pela Lava Jato
pagaram a ele R$ 9,5 milhões, num período em que Renato Duque era o diretor de
Serviços da Petrobras. O lobista Milton Pascowitch, que ajudou a aproximar a
empreiteira Engevix do PT e também passou a colaborar com as investigações,
disse que alguns pagamentos feitos à consultoria de Dirceu eram propina. Dirceu
sempre negou ser o padrinho de Duque na Petrobras e afirma que sua consultoria
prestou serviços às empreiteiras, ajudando a prospectar negócios no exterior.